quarta-feira, 19 de setembro de 2007

povoamento de pratania e região de botucatu sp

Tamanho da fonte

RAZIAS
INCURSÕES PREDATÓRIAS EM TERRITÓRIOS INDÍGENAS DO VALE PARANAPANEMA

PARTE II – OS EXTERMINADORES DO PASSADO

O MAIOR DOS DESBRAVADORES DO SERTÃO PAULISTA

RETRATO ESCRITO

Um homem franzino, de pequena estatura e fala mansa, tipo caboclo com fronte larga, olhos miúdos e queixo fino, pele clara com sardas, quase imberbe senão uma barba rala a cobrir-lhe o rosto e fios esparsos de cavanhaque no queixo. Vestia roupas simples e rudes, pés quase sempre descalços.

Esta é a única descrição de um homem lendário, um obstinado matador de índios para lhes tomar as terras, porque também as ambicionava até onde a imaginação lhe pudesse levar, com isso a se tornar o mais ousado desbravador de sertões no oeste paulista no século XIX, conseqüentemente o maior latifundiário particular de todos os tempos que São Paulo, capitania, província ou estado, já conheceu.
Era intrépido, alegre, folgazão, festeiro e perdulário tanto, dizem, que chegou a trocar uma enorme fazenda por um negro escravo, violeiro e cantador de cateretê.

Amado pelos amigos, odiado pelos inimigos, mas indistintamente temido por todos, se era chamado de Pai pelos nativos, a História, no entanto, o registrou para sempre como O Exterminador de Índios.

Quase três décadas depois de 1847, quando de sua entrada triunfal em terras do oeste paulista, este homem morreu pobre e esquecido por todos, conta a história, exceto talvez por um indígena vingador de seu povo, que o matou a golpes de borduna em 24 de setembro de 1875, deixando o corpo no local para ser sepultado no Cemitério de São Pedro do Turvo, numa cova que de tão simples ninguém mais sabe onde encontra-la.

Bem ou mal, é a este homem que se deve todo o desenvolvimento do oeste paulista. Seu nome, José Theodoro de Souza.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Toda a história de Theodoro confunde-se com as lendas a seu respeito; sua morte, por exemplo, teria ocorrido em 24 de setembro de 1875 – conforme inventário, embora outros historiadores citam-na aos 24 de julho de 1875.

O pioneiro teve os seguintes filhos com sua mulher Francisca Leite da Silva: Flausina Maria de Souza, Francisco Sabino de Souza, Maria Theodora de Souza, José Theodoro da Souza Júnior, Agostinha Maria de Souza e um filho póstumo, José Luiz de Souza, nascido de Anna Luiza de Jesus.

Outra fonte informa filhos de Theodoro com dona Francisca: José Theodoro de Souza Junior, Maria Theodora de Souza, casada com Francisco de Paula Moraes, a mulher de Francisco Sabino de Souza, a mulher de José Inácio Pinto e a mulher de Josué Antonio Diniz. Com Anna Luiza de Jesus lhe nasceu José Luiz de Souza, em 23 de setembro de 1875.

Francisco Sabino aparece filho numa citação e genro em outra, nisto a ausência ou não de possível filha.

Não constam filhos de seu casamento com Maria José – [de 30 de janeiro de 1838].

Dados colhidos para referido retrato escrito dos seguintes autores e obras:

1. Amador Nogueira Cobra, Em um Recanto do Sertão Paulista, Tipografia Hennies Irmãos – 1923.
2. Bruno Giovannetti, Esboço Histórico da Alta Sorocabana, Empresa Gráfica da Revista dos Tribunais Ltda. São Paulo.
3. Francisco Marins, Clarão na Serra, 10a. edição, Editora Ática – São Paulo, 1985.
4. José Magali Ferreira Junqueira, Santa Cruz do Rio Pardo / Memórias / Subsídios para a História de uma Cidade Paulista, edição de 1994.

Leoni Ferreira da Silva, Minha Terra, Assis – edição 1979 pela Tipografia Nigro – Assis-SP.

INVASÕES PREDATÓRIAS D’ALÉM SERRA BOTUCATU

Em princípios do século XIX os índios, expulsos pelo Coronel [ou Capitão] Francisco Manuel Fiúza [1770], estavam de volta para os lados da serra de Botucatu com descendentes e agrupados Entre os anos de 1780 a 1830, vindos não se sabe bem de onde, diversas tribos Guaranis [Caiuás] e Jês [Oti-Xavantes] retornaram ou chegaram ao Planalto, acrescidos de outros grupos e restos tribais descendentes dos antigos aldeados em fazendas jesuíticas – Guareí e Botucatu, para formar numerosa e preocupante população indígena.

Soma-se àqueles grupos o Jê Caingangue que aparece, aos magotes, junto às matas marginais dos rios, Batalha, Peixe, Aguapeí, Pardo, Paranapanema, partes do Tietê e Paraná. Embora discutível ainda, quando aconteceu a primeira presença Caingangue na região e suas razões migratórias, João Francisco Tidei Lima assinala que “desde os princípios do século XIX, sua presença é oficial e ostensivamente acusada no ocidente da Capitania, entre os rios Tietê, Paraná e Paranapanema” (1).

Também surgem outros grupos Caiuás e Guaranis, propriamente ditos, do sul de Mato Grosso, Paraná, leste do Paraguai e nordeste da Argentina, onde desapossados de seus termos procuram segurança em terras do Planalto Ocidental Paulista, pós 1835, depois de infausta querença pelos lados de Itapetininga e Itapeva, para uns a causa do lendário Êxodo Guarani em busca da Terra-Sem-Males, quando uma das hordas a caminho “sem canoas, pouco abaixo da foz do Ivahy, subindo então pela margem esquerda deste rio até a região de Villa Rica, onde cruzando o Ivahy, passou-se para o Tibagy, que atravessou na região de Morro Agudos. Rumando sempre em direção ao leste, atravessou com seu grupo o rio das Cinzas e o Itararé até se deparar finalmente com os povoados de Paranapitinga e Pescaria na cidade de Itapetinga, cujos primeiros colonos nada melhor souberam fazer que arrastar os recém-chegados a escravidão” (2).

Lenda ou não, é certo que o avanço do homem branco em busca de boas terras para pastagens e para lavouras, para os lados de Itapetininga, Itararé, Itapeva, Porangaba, Tatuí e Guareí, obrigaram grupos Guaranis e Caiuás buscar segurança para além da serra Botucatu, a partir de 1808. Considerando Carta Régia do mesmo ano 1808, que permite a guerra ao índio e sua escravização, arregimentaram-se bandeiras, a soldo de fazendeiros e dos donos de engenhos de açúcar de Itapetininga e Itapeva, “homens ricos que nas mesmas não residem” (3), para apresamento de “(...) índios bárbaros que infestam esse território” (4), com propósitos de tomar suas terras, torna-los escravos ou afugenta-los para bem distante.

Outra causa da maior presença indígena no Planalto decorre pelo fracasso das fazendas concebidas no ultimo quartel do século XVIII, ou pós-jesuítas, já desfeitos os planos de povoação intentados por Morgado de Mateus, pelo sucessor Martim Lopes, com isso a propiciar o retorno dos índios quase sem resistência alguma. Portanto, somadas as diversas tribos recém instaladas na região a partir dos anos 1800, não é errado afirmar que havia bem mais índios em 1830 que em 1760, quando encerradas as atividades jesuíticas na região; também é correto que as tribos do século XIX eram mais ferozes que as suas precedentes catequizadas e semicivilizadas, desta forma vistas como hordas bárbaras a justificar reações brancas com eficazes armas de fogo contra obsoletas flechas e bordunas.

Alguns estudiosos apontam, ainda, presenças Jês Kaiapós entre Salto de Avanhandava e Itapura, conforme menção de João Francisco Tidei Lima: “Dos Kaiapós-Meridionais – tribo do grupo Jê que, durante muito tempo, habitara o noroeste de São Paulo, compreendido entre o Rio Grande e o Paraná” (5), tratando-se, a nosso juízo, de população flutuante entre São Paulo, Mato Grosso [do Sul], sul de Goiás e Minas Gerais.

Os índios, independente de qual nação ou tribo, quase nunca atacavam pessoas em trânsito, somente as assentadas, por isso o êxito dos aventureiros pelos caminhos do sertão. Também, raríssimas vezes investiam contra povoados brancos de vinte ou mais pessoas, optando por ataques isolados de surpresa a uma, duas ou três, no máximo seis pessoas, geralmente nos roçados. Mas, eram exatamente os ataques indígenas isolados que mais causavam pânico entre os brancos, sobretudo pelos casos ditos de empalações, crucificações, esquartejamentos e amputações dos membros de pessoas ainda vivas.

Se os índios não atacavam povoados, certamente assustavam seus moradores durante a noite, rondando as imediações e fazendo notórias suas presenças ameaçadoras; provocando incêndios ou matança de animais, principalmente cães que facilmente lhes detectavam as presenças, alertando os donos. Consta que os índios imitavam cães em alertas ou brigas para despreocupar os donos, enquanto matavam os animais e os carregavam para longe, com alguns relatos que se alimentavam das carnes caninas.

Para Antonio Cândido “os estabelecimentos humanos [brancos] só aparecem (nessa região) em pleno século 19, sob a forma de fazendas e sítios polarizados por Tatuí, na maior parte, e por Botucatu os que se localizavam nas fraldas da serra. (...). Na direção de Botucatu, o acesso ao planalto se tornava bastante difícil pela serra, cujos morros fechavam a passagem para o sul, atingindo também àqueles que vinham de Tietê e os que desciam de Anhembi e, apenas para o lado de Porangaba e Tatuí as comunicações eram desimpedidas para o lado de Bofete; por aí, certamente, penetraram povoamento e cultura naquela direção” (6).

A geografia era bastante favorável para presença indígena regional, podendo à distância vigiar os propósitos dos brancos e intercepta-los quando necessário, por isso uma temeridade nos idos 1835/36 se fixar no sertão, isoladamente ou em pequenos grupos, além da serra Botucatu.

O tropeiro Pedro Nardes Ribeiro e o fazendeiro botucatuense, Felicyssimo [Felicíssimo] Antônio de Souza Pereira, ambos mineioros, desavisados não se sabe, em 1836 ousaram, com a família e agregados, avançar até os campos de Bauru, quando atacados por índios bravios que feriram gravemente os acompanhantes, salvando-se Felicíssimo e sua família, sem mencionar a sorte Nardes e companheiros feridos. Certamente Felicíssimo e Nardes tenham se aventurado após avanço dos fazendeiros sorocabanos, Domingos Palmeira e Procópio José de Matos, em 1835, até onde fundaram a fazenda São Domingos (7), cuja sede se tornou “a primeira povoação a se formar no oeste (...) nas cabeceiras do rio Turvo” (8).

Da ocorrência citada dá-nos provas uma das missivas de Felicíssimo, datada de outubro de 1836, encaminhada ao Presidente da Província de São Paulo (9), a reclamar providências do governo em relação aos índios bravios, sugerir a criação de uma aldeia para nela encerrá-los e educa-los para mão de obra escrava. Felicíssimo, na oportunidade, fez ameaças ao governo quanto possível reação sua e de outros fazendeiros atacados pelos selvagens, para tudo terminar numa carnificina, caso pelo menos não fossem expulsos os silvícolas. A carta de Felicíssimo, que se encontra no Arquivo do Estado de São Paulo – AESP, esteve ignorada até 1858 (10).

Outras denúncias, que os índios estavam a atacar abridores de fazendas, terminavam em apelos ao governo para providenciar aldeamento dos assassinos ou expulsa-los da região. Algumas recomendações pediam levantamento de sentinelas militares avançadas, a cada cinco léguas de sertão adentro, para segurança dos desbravadores e repelir os índios, como pensava Francisco de Paula Vieira, citado por Hernâni Donato (11).

Ignorados pelo governo os fazendeiros se mobilizaram sob a liderança do Capitão Tito Corrêa de Mello (12), não só para defesa de suas propriedades, no alto da serra, com jagunços disponíveis, mas para as razias em territórios indígenas com objetivos em avançar frentes pioneiras além da serra, ou mais propriamente, adiante de São Domingos [do Tupá].

Fracassadas as tentativas de adentrar os sertões, Capitão Tito fez vir com urgência de Pouso Alegre [Minas Gerais] o cabecilha José Theodoro de Souza, “através de uma carta com muitas promessas de riqueza. Este, por sua vez, convidou outros desbravadores, dentre os quais, o major Victoriano de Souza Rocha, o fundador da Vila do Rio Novo, atual Avaré” (13). Theodoro, mais adiante descrito, em fins de 1849 estava em Pouso Alegre se preparando para a grande marcha rumo ao oeste paulista, quando lhe chegou a carta de Capitão Tito cuja urgência do pedido o fez deixar os encargos sob responsabilidades de parentes.

* Victoriano de Souza Rocha, para uns, chegou procedente de Bragança Paulista, para outros, de Pouso Alegre para se integrar no bando de Theodoro.

A proposta de Tito praticamente ratificou a oferta que seu sogro José Gomes Pinheiro fizera ao mesmo Theodoro: “Gomes aproveitara o descanso forçado para responder as cartas [dos amigos] e interessar gente de outros rincões nas terras de ‘seu’ sertão. Aquele mundo precisava de gente valente e de braço. (...). Lembrou-se de um amigo, José Teodoro de Souza. Que viesse ver as terras da serra. Garantia que não ia se arrepender” (14). Foi em atenção a esta missiva que Theodoro realizara um primeiro reconhecimento em terras do Vale Paranapanema, no ano de 1847, interessando-se por elas.

A missão de Theodoro, a pedido do Capitão Tito, era exterminar os índios e recuar os sobreviventes, havendo-os, para além do Paranapanema, Paraná e do Aguapeí, a partir da região de Avaré, tomando-lhes as terras para entregá-las limpas e seguras aos interessados, mediante paga – vendas das terras, ou gratuitamente pelos serviços prestados à civilização, isto é, do haver participado do grupo exterminador.

JOSÉ THEODORO DE SOUZA, CABEÇA DE ENTRADA

Houve um tempo que todo o interior paulista, entre os rios Tietê e Paranapanema, a partir dos povoados de Botucatu e São Domingos [do Tupá], se não de todo desabitado, era ainda um imenso sertão desconhecido do chamado homem civilizado, quando entra em cena a figura controversa do pioneiro desbravador José Theodoro de Souza, para proceder ao seu registro paroquial de terras na então Vila de Botucatu, aos 31 de maio de 1856:

* “Sou senhor de umas terras de cultura no logar denominado Rio Turvo, districto desta Villa de Botucatú, e suas divisas são as seguintes: Principiando esta divisa no barranco do Rio Turvo, barra do Correguinho da Porteira, divisando com os herdeiros e meeira de José Alves de Lima, e cercando as vertentes com quem direito for até encontrar terras de José da Cunha de tal até atravessar o rio Pardo, por outro lado até o espigão fóra com quem direito for até cahir no mesmo barranco do Paranapanema, por este abaixo até frontear a barra do rio Tibagy, e daqui cercando as vertentes desta agua que se acha dentro deste círculo até encontrar-se com terras de Francisco de Souza Ramos, daqui descendo até o barranco do São João, por elle abaixo até sua barra no Turvo, por este acima até encontrar com a barra do ‘Correguinho da Porteira’ donde foi o princípio e finda esta divisa. Cujas terras assim divisadas e confrontadas as possuo por posses mansas e pacíficas que fiz no anno de 1847 e nellas tenho morada habitual até o presente. Por José Theodoro de Souza, Francisco das Chagas Motta. Apresentado aos 31 de maio de 1856. Vigário Modesto Marques Teixeira”.

Era uma imensidão de terras constante do Registro Paroquial nº. 516 fls.168 – verso, que em muito extrapolava os limites legais permitidos ou tolerados pelo Império, numa descrição sumária, porém imprecisa e que ainda hoje suscita dúvidas quanto suas reais dimensões.

Seguindo os historiadores entende-se que as posses de Theodoro iam desde o Rio Turvo e Ribeirão das Antas, entre os Rios do Peixe e do Paranapanema, até o Rio Paraná, embora as terras de referido registro atingissem somente até as margens do rio das Anhumas, compreendendo apenas o Vale Paranapanema.
Ainda assim, as posses de Theodoro possuíam algo em torno de 60 quilômetros de testada por 150 de fundos, ou seja, quase nove mil quilômetros quadrados de terras.

Conforme Antônio de Arruda Dantas (1), até onde a oficialidade lhe permitiu, as posses de Theodoro incluiriam, os municípios de São Pedro do Turvo, Ubirajara, Alvinlândia, Lupercio, Ribeirão do Sul, Salto Grande, Ibirarema, Campos Novos Paulista, Ocauçu, Platina, Echaporã, Palmital, Candido Mota, Assis, Florínea, Cruzália, Maracaí, Paraguaçu Paulista, Lutécia, Oscar Bressane, Borá, Quatá, João Ramalho, Iepê, Rancharia, Martinópolis, Indiana, Regente Feijó e parte de Anhumas, até às margens do rio que tem o mesmo nome.
Para a Comissão de Exploração do Rio do Peixe, criada em 1908, “Theodoro apossou-se da região do campo, habitada pelos chavantes e que se estende desde a encosta da Serra dos Agudos, às proximidades do Paranapanema, e até frontear do Ribeirão das Anhumas; João da Silva apossou-se das Anhumas para baixo e Francisco de Paula Morais a região da mata, no vale do Rio do Peixe” (2).

* João da Silva Oliveira e Francisco de Paula Moraes, respectivamente cunhado e genro de José Theodoro de Souza, não registraram suas posses, cabendo daí a confusão que tudo era de Theodoro, sabendo-se que João da Silva, como procurador geral do cunhado famoso, tenha mesmo assinado venda de algumas de suas terras e de Francisco de Paula Moraes, como se fossem realmente do pioneiro-mor, situações que criariam sérios litígios aos compradores, diante da não regularização fundiária ou reconhecimento legal de propriedade.

Apesar do exagero da posse, Theodoro lançara ainda, na mesma data e paróquia, registros de três outras propriedades menores, apossadas entre os ribeirões do Alambary e São João (3) – títulos abaixo resumidos, sob números 518, 519 e 520 (4):

Registro 518: “Principia no lado de cima divisando com Messias José de Andrade e pelo alto com quem de direito for até encontrar com terras de Manoel Alves dos Reis e pelo espigão abaixo com o mesmo Alves até o rio e pelo veio do rio acima até encontrar o princípio desta divisa”.

Registro 519: “Principiando na barranca do rio São João e seguindo por um espigão divisando com Matheus Leite de Moraes e rodeando as vertentes de um braço do São João até encontrar com terras de Francisco de Souza Ramos, até o veio do rio São João e por este acima até onde principia e finda esta divisa”.

Registro 520: “Principiando esta divisa no barranco do rio São João defronte de um pau de cabiúna aonde faz ponto de divisa com Francisco de Souza Ramos até encontrar com terras de João Vicente de Souza daqui seguindo por um espigão dividindo com o mesmo Souza até encontrar com terras de Manoel Joaquim da Cunha até a barranca do rio São João e por este acima até encontrar com terras de Anastácio José Feliciano, divisando com José Antonio Diniz até encontrar com terras de Francisco de Souza Ramos onde fez princípio e finda esta divisa”.

Os proprietários de terras divisas com Theodoro estão entre os membros da expedição pioneira de 1847, em terras recebidas do próprio desbravador, a fim de congregar gentes e tornar a região segura para a vinda e fixação das primeiras famílias, a partir de 1851.
Ainda, naquele mesmo 31 de maio de 1856, na Vila de Botucatu, José Theodoro de Souza procedeu ao registro paroquial e obteve cópia assinada, pelo vigário Modesto Marques Teixeira, de uma “vastíssima área entre a [atual] cidade de Bauru e as margens do rio Paraná. O registro denomina a área Fazenda Rio do Peixe, ou Fazenda Boa Esperança do Aguapeí” (5), principiando desde as fraldas da serra de Agudos, entre o Peixe e o Feio, englobando todas as terras até o rio Paraná.

Os antigos historiadores nada ou pouco mencionam José Theodoro nesta transação, ou que fosse ele titular de terras em regiões de Bauru, todavia encontramos a seguinte referência em João Francisco Tidei Lima: “Além do mesmo José Theodoro, cuja presença na região do rio Batalha é registrada em 1861, avultam também, entre outros (...) detentores de numerosas posses na região”. Além desta menção, o mesmo Tidei Lima apresenta documento do Juiz Municipal de Botucatu que, em carta/ofício de 23/agosto/1861, ao Presidente da Província de São Paulo, denuncia que Bauru, “esta imensa área na sua quase totalidade tem sido apropriada e vendida por José Theodoro de Souza e pelos irmãos Francisco e Antonio de Campos” (6).

Outros estudiosos regionais reconhecem em Theodoro o desbravador das regiões de Lençóis Paulista, Bauru, Avaré, Cerqueira César entre outras, aparentemente sem apossá-las, cabendo lembrança que, dos registros de suas terras [516, 518, 519 e 520] não há menção alguma do número 517, se posto em registro de posse da Fazenda Rio do Peixe/Boa Esperança do Aguapeí, se invalidado ou alguém dele tenha se apropriado, para requer terras devolutas, mediante falso registro de propriedade.

As posses de Theodoro eram terras livres de ocupações primárias e nelas não havia sinais de entradas nem assentamentos de exploração, não restando dúvidas ser ele o primeiro branco a entrar nelas, com os cuidados de anotações de divisas e delas apropriar-se.

* Se alguém antes esteve na região, foi tão somente de passagem e nenhuma fixação observável senão aquela no século XVII [1610-1628], à margem direita do rio Paranapanema [redução espanhola São Pedro, de curta duração, no lado paulista] entre os afluentes Tibagi e Pirapó, conforme créditos dados a Bruno Giovannetti e Arruda Dantas que mencionam a redução espanhola São Pedro, dentro do território hoje paulista. Também, no século XVIII [1719/1759], os Jesuítas eram proprietários de terras na região de Botucatu, mas tudo desde Avaré e adiante de São Domingos estava em completo abandono desde 1780, inclusive Paranan-Itu e Pouso de Lençóis, embora tais localidades ainda servissem de corredor de passagem rumo ao sertão.

Theodoro sabia, para o registro paroquial de terras, necessário tão somente o ato declaratório do possuidor ao Vigário, a quem cumpria transcrever num livro próprio e fornecer cópia ao declarante, sem questionar a origem ou a verdade do ato, sendo obrigado proceder a lançamento mesmo sabendo falsas as declarações, pois contra o registro cabiam apenas pareceres de autoridades civis da província, que pudessem tornar nulos o direito de posse, com aplicações de penalidades cabíveis, quando esgotados os recursos.

Alguns autores acreditam que José Theodoro, em 1856, simulara data atrasada da posse das terras, 1847, para apresentar ao Registro Paroquial em Botucatu e assim, legalmente, garantir sua propriedade, de acordo com termos da denominada Lei da Terra de 1850.

Para os historiadores, a partir de referido registro começaram as discussões de quando efetivamente José Theodoro de Souza chegou à região, em 1847 [data informada de suas posses] ou 1856 [data dos registros], se veio algum dia, ou mesmo que tenha existido, posto considerado pelo Governo do Estado de São Paulo, 1955/1958 – administração Jânio da Silva Quadros, como figura imaginária, inexistente e reconhecida como tais (7).

Unanimidade, José Theodoro de Souza teria sim existido e adentrado o sertão paulista, em alguma data entre os anos de 1847 e 1856, com pequena comitiva vinda de Pouso Alegre [MG], para dominar toda extensão de terras entre o divisor do Vale do Peixe com o Paranapanema, a partir do Rio Turvo a descer pelo mesmo rio Paranapanema, além da desembocadura das águas do paranaense Tibagi ou, mais propriamente, do afluente paulista rio das Anhumas ou do ribeirão Água Boa, por alguns autores, subindo até sua nascente para encontrar os espigões da região de Bartira.

Alguns pesquisadores, conforme veremos, acreditam que Theodoro, para tamanha ousadia de posses, tenha se valido da influência de seu compadre e conterrâneo Capitão Tito, com quem tinha um acordo de tornar suas as terras além do Rio Turvo, até onde sua ambição o levasse. Outros entendem que o sertanista teve promessa do próprio Imperador, em tornar suas as terras livres apossadas.

Para o engenheiro e pesquisador Bruno Giovannetti, o pioneiro Theodoro, nascido em Pouso Alegre, Minas Gerais, entre 1805 e 1815, chegou à região em 1855, com um plano já traçado de assenhorar-se de muitas terras, e para o registro se viu obrigado “(...) declarar que tinha posse nas ditas terras desde o ano de 1847 para ser considerado legítimo o ato de ocupação, em face da Lei 601 de 1850, em virtude da qual tornavam-se nulas as ocupações das terras devolutas, por outro título que não fosse o de compra. Em 30 de janeiro de 1854 foi promulgado seu regulamento, pondo fim às apropriações de terras devolutas, tentando assim de salvar o patrimônio devoluto da Província” (8). Desta maneira, da promulgação da Lei 601 de 1850 e seu regulamento em 30 de janeiro de 1854, Theodoro se aproveitara do prazo legal maior concedido para legalização de posses que ia até 1856, para o registro de suas terras com data de posse em 1847, um mero artifício para que o ato não se tornasse nulo de plenos direitos, nem viesse o declarante incorrer em penalidade legal.

Professor José Magali Ferreira Junqueira escreve: “Um dos mais intrépidos, senão o pioneiro desbravador do Sertão do Paranapanema, será JOSÉ THEODORO DE SOUZA, bandeirante nascido no Rio de Janeiro, transferido ainda criança para Pouso Alegre, Minas Gerais, onde casou-se aos 24 anos de idade, com Maria José no dia 30 de janeiro de 1838”. José Magali dá-nos o saber que José Theodoro teria nascido entre 1813/1814 e chegado à região do Paranapanema “nos meados do século XIX” (9).

* Outros autores atestam esposas de José Theodoro, as senhoras, Francisca Leite da Silva – com quem chegou ao sertão, e depois Anna Luiza de Jesus quando se enviuvou. Conforme cópia de Certidão de Casamento cedida pelo pesquisador santa-cruzense do Rio Pardo, Geraldo Vieira Martins Junior, Theodoro teve realmente um primeiro casamento em Minas Gerais, com Maria José.

O advogado e historiador Amador Nogueira Cobra cita José Theodoro de Souza como desconhecido lavrador, natural de Pouso Alegre, Minas Gerais, que além do meado do século XIX, teve a “idéia de se aventurar até a região do Paranapanema, à procura de terras de cultura, afim de tomal-as por ocupação originária”. Ainda, segundo Amador Nogueira, Theodoro era casado em primeiras núpcias com Francisca Leite da Silva, analfabeto, mas “dotado de intelligencia, e, sobre tudo, de uma constituição physica excellente” que, já no sertão, enviuvado, se casara com Anna Luiza de Jesus (10).

Leoni Ferreira da Silva assegura que “Na década de mil oitocentos e cinqüenta [José Theodoro de Souza] procedeu [a]o registro de sua posse, obedecendo a legislação em vigor. Há entretanto, quem tenha descrito que Teodoro simulou data atrasada para apresentar ao Registro da Paróquia em Botucatu. Não é verdadeira tal descrição”. Para o autor, José Theodoro de Souza, nascido em Pouso Alegre (MG) no ano de 1797, casado em primeiro consórcio com Francisca Leite da Silva, chegou mesmo à região do Paranapanema em 1847; enviuvado, casou-se depois com Anna Luzia de Jesus, vindo a falecer em 1875 aos setenta e oito anos de idade (11).

José Joaquim Gonçalves Melo relata, por José Antonio de Lima – cunhado de José Theodoro de Souza, “que este tinha autorização expressa e escrita por ordem do Imperador D. Pedro II, para fazer o levantamento das terras e registros das mesmas” (12).

Cristiano Machado informa, por supostos familiares de José Theodoro, ser este nascido em Pouso Alegre em 1805, vindo ao oeste paulista em 1847, por ordem imperial, para constatar ou não civilização no local e receber do imperador aquelas terras inabitadas e nem antes apossadas (13).

Discussões à parte, a história registra em 1842 a primeira presença [sabida] de José Theodoro na Província de São Paulo, em contato com Eusébio Costa e, provavelmente, o Capitão José Gomes Pinheiro, residentes em Itapetininga, dois dos maiores fazendeiros e rivais políticos na região de Botucatu.

O encontro com Eusébio nos é fornecido pelo historiador botucatuense Hernâni Donato, ao informar José Theodoro de Souza, cabecilha de mercenários numa outra obrigação em Sorocaba, quando soube que aquele seu coestaduano, no início da Revolução Liberal [maio de 1842], caíra prisioneiro dos liberais momentaneamente senhores da situação, sendo então “(...) libertado, quase a força, por um outro caudilho, José Theodoro, nascido no Rio de Janeiro, mas tido e havido por mineiro” (14).

Não se sabe o que Theodoro fazia na região, em maio de 1842, por certo travestido de tropeiro presente em Sorocaba para a feira anual de animais, também realizada em mês de maio, onde se negociavam tropas de muares vindas do sul, com grande freqüência de compradores baianos, fluminenses e, sobretudo, mineiros.

* A localidade de Sorocaba era famosa por sua feira anual de animais, em meio a festas religiosas e eventos desportivos como as montarias, as provas de laços e as touradas. Ali compareciam pessoas das mais diversas regiões do Brasil.

Os mineiros que participavam da feira anual de Sorocaba, raramente se valiam dos caminhos pelo Vale Paraíba, optando pelo trajeto Botucatu, São Domingos [do Tupá], Bauru e Lençóis [Paulista], depois transposto o Tietê, Jaú, São Carlos, São Simão e Franca ou Casa Branca. Este percurso era conhecido como Caminho das Tropas, ou Rota do Contrabando, bastante utilizada pelos mineiros [tropeiros] que assim bem sabiam daquelas terras adiante de Botucatu.

Talvez por isso, ou avisado pelo coestaduano Costa de boas terras a serem apossadas adiante de São Domingos [do Tupá], Theodoro quando de volta para Minas Gerais teria passado pelo lugarejo, ocasião provável de uma primeira incursão pelas margens do rio Turvo, quando o pioneiro e alguns companheiros chegaram pelos lados de Espírito Santo do Turvo, ainda em 1842 (15), ou mais adiante, não se sabendo oficialmente da permanência de alguém da equipe naquela região, senão a partir de 1847, quando José Alves de Lima (16) instalado onde o Correguinho da Porteira [que informam ser o atual Córrego dos Mineiros], afluente do rio Turvo, conforme Registro de Posse de Terras nº 520, de 31 de maio de 1856, em nome de José Theodoro de Souza.

* Maria José Corrêa de Oliveira Zanoni afirma-nos: “O pioneiro nos avanços por estes lados foi José Teodoro de Souza, que fundou São Pedro do Turvo em 1842”. A autora prossegue: “(...) foi uma ocupação lenta [referindo-se a Santa Cruz do Rio Pardo] tanto que a cidade de São Pedro do Turvo (...) foi fundada 30 anos antes da fundação de Santa Cruz do Rio Pardo [oficialmente em 1872]” – Santa Cruz do Rio Pardo, Nossa Terra, Nossa Gente, Off-Set Osmare / Bauru, edição 1976, páginas 55 e 56..

Francisco Marins indica-nos que o Capitão José Gomes Pinheiro, de sua fazenda Monte Alegre no alto da Serra de Botucatu, escrevera ao amigo José Teodoro de Souza, em algum tempo entre 1842 e 1844, para que este viesse ver as terras da região, que “precisa de gente valente e de braço” (17). Não se sabe quando Theodoro atendeu o convite.

Theodoro, já conhecedor e interessado naquelas terras, em atenção ou não ao convite do Capitão Gomes montou, em Pouso Alegre, toda infra-estrutura necessária para uma grande jornada de reconhecimento ao oeste paulista, desde a mobilização da comitiva, às construções de canoas e demais instrumentos de trabalho feitos por operários e artesãos, tarefas árduas e demoradas para a época. Em 1847, efetivamente, ele e sua comitiva chegaram a Botucatu, com interesses em penetrar o sertão do Paranapanema, conhecer e apossar as boas terras que lhe falara por carta o Capitão José Gomes Pinheiro.

* A sorte favoreceu o mineiro, pois, além de Gomes, tinha ele conhecimentos desde Pouso Alegre com o Capitão Tito, agora residente em Botucatu, e certamente bem se entenderiam por muitos anos, conforme registrou a história.

Fizeram parte da primeira comitiva [pioneira] de Theodoro, em 1847, José Alves de Lima, José da Cunha, Manoel Joaquim da Cunha, Messias José de Andrade, Manoel Alves dos Reis, Matheus Leite Moraes, João Vicente de Souza, Francisco de Souza Ramos [irmão de Theodoro], José Antonio Diniz e Anastácio José Feliciano (18). A todos José Theodoro doaria porções de terra para “congregar gente em um ponto determinado, onde pudesse surgir povoação, servindo de apoio àquele punhado de homens, perdidos na solidão imensa” (19).

Theodoro fez, portanto, sua primeira incursão oficial pelo Vale Paranapanema em 1847, para reconhecimentos de áreas pelo rio Pardo, Paranapanema e Turvo, este ultimo pelo qual subiu desde o encontro com o Pardo até encontrar um afluente que denominou São João e, por este, até a embocadura de um ribeirão batizado São Pedro, local que escolheu para si, familiares e amigos mais próximos. Dispôs, ainda, dos terrenos marginais ao rio Pardo, à margem esquerda do rio Turvo, dos lados circundantes do Alambari e da Jacutinga, destinando melhores regiões de cultura às famílias cujos responsáveis fossem de sua confiança e do Capitão Tito, para construir ranchos – povoados, trazer agregados e trabalhar a terra, visando garantir posses e direitos de propriedade (20).

O pioneiro voltou a Pouso Alegre, acompanhado de seu irmão Francisco de Souza Ramos e de João Vicente de Souza, para buscarem familiares e arregimentar voluntários interessados em possuir terras. Deixaram na região os demais integrantes da comitiva, em pontos estratégicos para garantir as posses, localizar os melhores lugares para formar povoados, procurar predecessores possíveis e anotar divisas, afora matar índios ou afugenta-los para o mais distante possível. Estes guardiões, tendo base de apoio e quartel general onde hoje São Pedro do Turvo, permaneceriam no local por alguns anos até que pudessem chegar as primeiras famílias em devida segurança.

Pelas citações nominais, dos limitantes com as posses de Theodoro, ficaram na região, José da Cunha, próximo do Bairro Santa Cruz [da Boa Vista] – atual Domélia, Messias José de Andrade na hoje Santa Cruz do Rio Pardo, onde suas terras à margem esquerda do rio Turvo desde a frente onde a barra do Alambari, enquanto Manoel Alves dos Reis, Manoel Joaquim da Cunha, Anastácio José Feliciano, José Antonio Diniz e Mateus Leite de Moraes dividiriam posses entre áreas dos atuais municípios de Lucianópolis, Cabrália Paulista, Alvinlandia, Ocauçu, Ubirajara e Ribeirão do Sul, nas ultimas duas localizadas estavam as propriedades de Francisco de Souza Ramos e de João Vicente de Souza. José Alves de Lima instalou-se junto ao Correguinho da Porteira, nesta mesma época, vindo falecer algum tempo depois e sua posse entregue aos herdeiros e à sua viúva e meeira, conforme posto em Registro Paroquial de Terras, número 516, de José Theodoro de Souza.

Todas as propriedades menores em nome de Theodoro estavam de certa forma, dentro da gleba maior. O pioneiro, em 1856, assim procedeu para comprovar outras posses na região que lhe faziam divisas – retroagindo registros e, assim, justificar as suas.

Não houve registros de nenhum outro fenômeno migratório para a região entre os anos de 1847 – 1850, sendo também ignorado quanto tempo Theodoro permaneceu na região, a partir de 1847, sabendo, no entanto, que em 1849/1850 ele se encontrava em Pouso Alegre, quando lhe chegou às mãos uma convocação, por carta, do Capitão Tito Correa de Mello, fazendeiro, político e mandatário de Botucatu e região.

PARÊNTESE HISTÓRICO

Uma intrigante questão para os historiadores regionais é porque Theodoro, sendo pioneiro, não veio ocupar a bacia do rio Pardo. Acreditam uns que ele fora precedido por outros desbravadores e assim passou adiante, enquanto outros crêem em seu desinteresse por aquela área de espessas matarias que caracterizavam a região.

Existem opiniões que Theodoro teria algum acordo, primeiro com Capitão Gomes, depois com o genro deste o Capitão Tito, de somente ocupar terras além do rio Turvo, por isso a não se interessar pelo Vale do Pardo.

Num erro histórico, Amador Cobra noticia que Theodoro seguiu adiante do Pardo até o Turvo porque “Ai terminavam as posses já tomadas por outros que precederam ao mineiro” (21). Muitos autores subseqüentes, tendo Amador por referência, cometeriam o mesmo lapso.

A história, no entanto, não ratifica nenhuma das opiniões, a partir do registro da grande posse de José Theodoro, sabendo de antemão apenas da existência de São Domingos [do Tupá] a lhe anteceder no bruto sertão.

Esmiuçado, diz aquele registro 516:

1. “Sou senhor de umas terras (...) e suas divisas são as seguintes: Principiando esta divisa no barranco do rio Turvo, barra do Correguinho da Porteira, divisando com os herdeiros e meeira de José Alves de Lima (...)”.

Entende-se: onde o Correguinho da Porteira deságua no rio Turvo principiava as terras de Theodoro, a fronteirar onde a propriedade dos herdeiros e meeira de José Alves de Lima que lhe faz divisa. O Correguinho da Porteira tornou-se conhecido por Correguinho ou Córrego dos Mineiros (22).

2. “(...) e cercando as vertentes com quem direito for até encontrar terras de José da Cunha (...)”.
Acompanhando o espigão à direita são as terras de Theodoro até divisar com José da Cunha (23).

3. “(...)de tal até atravessar o rio Pardo (...)”

A propriedade de Theodoro transpõe o rio Pardo, situação jamais observada ou explicada por qualquer historiador. Isto significa que a linha divisória das terras do pioneiro, sempre pelas vertentes, dirige-se ao rio Pardo (24).

4. “(...) por outro lado até o espigão fora com quem direito for (...)”.
Assim, transposto o rio Pardo, chega-se ao espigão, em direção às atuais divisas municipais do Óleo com Bernardino de Campos (25).

5. “(...) até cair no mesmo barranco do Paranapanema (...)”.
Entre os municípios Óleo e Bernardino, a divisa ruma-se para as margens do rio Paranapanema (26).

6. “(...) por este abaixo até frontear a barra do rio Tibagi (...)”.
A divisa de Theodoro segue agora pelo rio Paranapanema abaixo até a foz do afluente paranaense Tibagi (27);.

7. “(...) e daqui cercando as vertentes desta água que se acha dentro deste círculo até encontrar as terras de Francisco de Souza Ramos (...)”.

Atingida a extensão pretendida de sua propriedade e largura de fundos junto ao espigão contravertente do rio do Peixe, o divisor das terras de Theodoro retorna até encontrar com aquelas de Francisco de Souza Ramos (28).

8. “(...) daqui descendo até a barranca do São João, por ele abaixo até sua barra no Turvo, por este acima até encontrar com a barra do Correguinho da Porteira donde foi o principio e finda esta divisa” (...).

A propriedade alcança o rio São João e por ele se chega ao Turvo e daí, rio acima sempre a divisar com seus confrontantes, atingir o Correguinho da Porteira (29) onde o princípio e fim do latifúndio.

Devidamente analisado, o declaratório de José Theodoro que deu origem ao Registro de Posse, não excluiu o território de Santa Cruz do Rio Pardo, nem Bernardinho de Campos, Ipauçu ou mesmo partes do Óleo, conforme entendimentos nas interpretações de mapas, textos, cópias e transcrições de antigos documentos oficiais (30).

* Onde o atual município de Ipaussu estava a Semaria das Antas, de propriedade do sertanista Tenente Urias Emygdio Nogueira de Barros [1790 – 1882], conforme relatos do autor Luiz Gonzaga da Silva Leme, Volume VI, Título Bicudos – Parte 3, páginas 384 a 425 de sua Genealogia Paulistana. As demais terras até a barra do Pardo eram devolutas da outrora Sesmaria de Antonio de Almeida Taques, e das posses de João Alavares de Araujo para além do Pardo. As Sesmarias foram outorgadas em 1725, às respectivas famílias vinculadas aos [Campos] Bicudo.

Para Amador Cobra, mantida grafia da época, o pioneiro Theodoro “À medida que seguia rio [Paranapanema] abaixo, assignalava os tributarios da margem direita do Paranapanema, unicos que lhe interessavam, observando a largura das barras e o volume do líquido que se despejava, elementos com que, approximadamente, podesse calcular a extensão da bacia de cada um. Antes da do Pary, passára pelas do rio Pardo, do ribeirão dos Bugres, Três Ilhas, Ribeirão Vermelho, Palmital e, para deante, [do Pari] mais as dos seguintes Macuco, Barranco Vermelho, Queixadas, Taquarassú, Dourados, Bugios, Anhumas, Capivara e, finalmente, ribeirão da Figueira, este mais ou menos em frente ao Tibagy” (31).

Com as conquistas e avanços pelo sertão Theodoro tornou-se “dono de território igual ao da Holanda”, segundo Hernâni Donato (32), ou seja, mais de 34 mil quilômetros quadrados; enquanto para Francisco Marins, com a abertura da região de Avaré [1850] Theodoro era o homem que mais tinha terra na província paulista (33), praticamente todo o oeste paulista que atuais pressupostos herdeiros, devidamente identificados, pretendem reivindicação na Justiça de partes já conhecidas e mais um território, “desde o município de Brotas (leste) ao rio Paraná (oeste), incluindo até as fronteiras dos rios Aguapeí (norte) e Paranapanema (sul)”, com apresentação de documentos que julgam habilita-los para as pretensões requeridas (34).

A reivindicação aparenta descabida, estando o município de Brotas no centro geográfico do Estado de São Paulo, integrado à bacia hidrográfica do rio Jacaré-Pepira afluente do Tietê – margem direita (35), onde nada parece atestar presença de Theodoro. Todavia, nos anos de 1970, ditos descendentes observavam constante em citado Registro Paroquial 516, que as terras de Theodoro divisavam com herdeiros e meeira de José Alves de Lima, entendendo tratar-se de uma viúva e filhos que tinham meação com tal José Alves, cujas terras situavam-se entre Brotas e Dourado, às margens do rio Jacaré-Pepira.

Coincidência ou não, anotações paroquiais em Brotas, de 5 de maio de 1856, certo José Alves de Lima [natural de São José das Formigas, Paraisópolis - MG] registrou posse de terras “no lugar denominado Dourado, que havia por posse feita há vinte e seis anos mais ou menos”, consoante Livro 20, registro nº 60.

Igualmente no mesmo mês e ano, Maria Francisca de Jesus, viúva de Joaquim Pereira de Araújo, também na Paróquia de Brotas registrava posse de terra “as margens do rio Jacaré-Pepira...”, local denominado “Sítio do Dourado”, de acordo com fls. 101v, registro nº 190 (36).
De fato, estando Maria Francisca de Jesus por meeira de José Alves, certamente a situação passa a ser bem mais coincidente que o imaginário de supostos herdeiros de Theodoro, mesmo a Justiça ainda não se pronunciando a respeito, pelo menos até dezembro de 2005.

Tal mistério soma-se ao da Fazenda Rio do Peixe ou Boa Esperança do Aguapeí, pretensamente do mesmo Theodoro, igualmente ainda não decifrado se até lá chegaram as posses do pioneiro.

RETOMANDO A HISTÓRIA

Escolhido o local que lhe serviria de base para o arrojado projeto de interiorização, quando viesse efetivamente ocupar aquelas terras vistas em 1847, encontramos José Theodoro de Souza em sua cidade de Pouso Alegre, Minas Gerais, no ano de 1849, envolvido nas arregimentações de parentes, amigos e voluntários, com respectivas famílias, que desejassem fazer vida no sertão do Paranapanema.

Foi nesta época quando recebeu uma carta de seu compadre e conterrâneo Capitão Tito Corrêa de Melo, convocando-o vir logo a Botucatu para empreitadas contra índios, ferozes, que impediam o avanço do homem branco rumo ao oeste paulista.

Garantiu-lhe o Capitão, como recompensa, torna-lo “dono de meio mundo naquele sertão, que começava na serra” (37), até onde lhe chegasse a ambição. A urgência do pedido aparentemente levou Theodoro abandonar os propósitos iniciais, repassando aos seus irmãos Bernardino José de Souza e Francisco de Souza Ramos, a responsabilidade da condução de toda comitiva e parentela à Província de São Paulo, quando avisados do momento seguro, e assim somente chegariam à atual São Pedro do Turvo aos 26 de junho de 1851 (38).

Theodoro chegou a Botucatu em 1850, entendeu-se com o Capitão Tito Corrêa de Mello “e ambos traçaram o plano da conquista da região habitada pelos índios. Na entrada da sertania serpeava um rio ao qual os índios Caiuás chamavam “Abaré-i” (rio do homem solitário ou da sentinela, segundo uns, ou do padre ou monge, conforme interpretação de outros). E foi o vale do rio “Abaré” o primeiro local visado pelos “posseiros” vindos de Pouso Alegre. Exterminados ou expulsos os selvagens Caiuás, cuja taba ficava onde hoje se localiza a fazenda da Boa Vista, o mineiro José Teodoro de Souza pôs o nome de Rio Novo ao Abaré, e a região desbravada foi dividida entre os componentes da caravana de civilizadores” (39).

“A mudança do nome rio Abaré para “Rio Novo” é explicado pelo capitão Tito, da seguinte forma: “De volta de sua excursão nas terras dos índios Caiuás e Botocudos, José Teodoro de Souza, que chefiava o bando de ”posseiros”, consultou-me se devia conservar o nome dado pelos selvagens aos rios e morros encontrados, bem como aos campos, ao que retorqui ser melhor dar-lhes nomes novos, de acordo com a nossa linguagem. E então ficou combinado o registro das posses efetuadas. O primeiro rio batizado foi o “Abaré”, que nasce umas 15 ou 20 léguas distantes da povoação de Botucatu, próximo de um morro, de forma abaulada. E o nome que se deu ao “Abaré” (que na língua bugre quer dizer “solitário” ou “sentinela”, segundo informação colhida por José Teodoro de uma índia aprisionada por ele), foi de “Rio Novo”, por ser o primeiro curso de água encontrado na avançada do sertão bravo” (40).

Acrescenta Francisco Marins que, “Com aquela luta na região de Avaré quebrara-se a ultima resistência dos bugres, pois o caminho ficara aberto, da serra para frente, em largo trecho e os perigos e sobressaltos das caminhadas iam desaparecendo. Os pioneiros, pondo pé de apoio na serra, invadiam o sertão e iam fazendo nascer os povoados de Avaré, Lençóis, Santa Bárbara do Rio Pardo, Timburi, São Manuel” (41).

Exterminados as tribos dos Caiuá e Botocudo, o caudilho Theodoro prosseguiu as razias em outros territórios indígenas, com as temíveis dadas, tornando aquelas áreas prontas para a fixação do homem civilizado, geralmente mineiros e fluminenses, sob controle do sócio financista Tito que assim promovia notável obra de empreendimento civilizacional, em áreas antes abandonadas por antigos sesmeiros e fazendeiros, que deram em nada, para vende-las com bons lucros, desde os lados de Timburi, Avaré, Itatinga, São Manoel, Cerqueira César, Pratânia, Lençóis, Bauru e Agudos até os limites de São Domingos [do Tupá]. Depois viriam, Santa Bárbara do Rio Pardo, Santa Cruz do Rio Pardo, São Pedro do Turvo, Campos Novos Paulista e Conceição de Monte Alegre (42).

De uma reação indígena, Marins nos relata outros horrores daquela guerra: “A gente de Teodoro [Theodoro] queria se vingar dos índios que tinham feito um ataque ao acampamento e caíra em cima da bugrada sem dó. Mataram quase todos os homens e, das mulheres, só deixaram as novas para se aproveitarem delas. Tinham tanta sede de sangue que iam estripando até crianças e velhos, que achavam pelas redes, ainda dormindo. Dizem que atiravam indiozinho de colo para cima e esperavam embaixo, na faca. Pegavam outros pelas pernas e batiam com a cabeça deles nos barrotes das choças. Encontraram uma índia grávida e abriram a barriga dela (...). A aldeia dos índios ficou que era só cadáver que eles largaram para os urubus comerem, quando não atiravam às águas para pasto dos jacarés famintos (...)” (43).

Os Caiuás “(...) que habitavam a região acabaram exterminados pela tropa comandada por José Theodoro de Souza e Tito Corrêa Mello, numa guerra sangrenta que preparou o terreno para a chegada dos históricos fundadores da cidade de Avaré, o major Vitoriano de Souza Rocha e o alferes José Domiciano Santana” (44), o ultimo também mineiro de Pouso Alegre, sendo o Major Victoriano de Souza Rocha, pelo menos, partícipe naquele terrível massacre, segundo informes do Capitão Tito:

“O Major Vitoriano, a que me prendiam laços de parentes por lado de minha mãe, em 1840 viera comigo de Pouso Alegre e ficara em Sorocaba negociando em tropas, do qual era entendido, pois fora o mais conhecido tropeiro, desde a cidade de Campanha até Ouro Fino. Anos depois, passando por Sorocaba, o meu compadre José Teodoro de Souza, que vinha à Botucatu a meu chamado e conhecendo a finalidade da viagem do conterrâneo, o Major Vitoriano incorporou-se ao grupo de pousoalegrenses que vinham povoar o sertão do Paranapanema. Era um homem alegra, folgazão, valente, domador sem igual e muito devoto. Tomou posse de chão perto do rio Novo, conhecido antes por “Abaré”, nome dado pelos índios Caiuás que habitavam a margem direita. Tomou parte na Revolução de 1842, tendo brigado na coluna desbaratada na Venda Grande, próximo de Campinas. Foi ele, com o auxílio de outros posseiros, quem, em 1861, ergueu uma capela com o nome de Nossa Senhora da Dores do Rio Novo. Em 1862, o Major Vitoriano e seu vizinho o compadre Domiciano Santana vieram a Botucatu e me procuraram para levá-los à casa do tabelião Francisco Antônio de Castro. Aí redigi a escritura de dação que ambos faziam, na parte em que seus sítios dividiam, cortados por um riacho ou córrego, de um terreno de quarto de légua (ou 27 hectares) para o patrimônio de Nossa Senhora das Dores. Essa escritura foi lavrada em 15 de maio de 1862. Nesse tempo já havia um cruzeiro em frente da capela e oito casinhas de pau a pique, cobertas de sapé. Foi esse o princípio da vila de Nossa Senhora das Dores do Rio Novo, cuja capela foi inaugurada em 10 de julho de 1861, dizendo a primeira missa que ali se realizou com a licença do Sr. Bispo, o vigário de Botucatu Padre Joaquim Gonçalves Pacheco” (45).

Mas, o pioneiro Theodoro e seu bando não se limitaram às ações praticadas em Avaré, prosseguindo com a mesma crueldade de matança aos indígenas, tomando-lhes as terras e entregando-as aos colaboradores ou aqueles ordenados pelo Capitão Tito, que se propusessem trabalhar a terra e construírem povoados.

Em terras onde a atual Timburi, mais ou menos uma légua acima da confluência dos rios Itararé e Paranapanema, desde 1799, com breve passagem por Jaú, residia tal Francisco Ferreira dos Santos, sua esposa Maria Prudência de Oliveira, também conhecida por Maria Ferreira, e [pelo menos] um filho, constatando referido Francisco foragido de Ouro Fino – Minas Gerais, onde cometera crime de morte (46). Outras famílias chegaram em 1852, pondo-se nas proximidades do mesmo rio Palmital, onde uma Capela e poucas casas formavam incipiente povoado sob sugestivo nome Retiro.

A antiga localidade denominada Três Ranchos, onde hoje Cerqueira César, determinou-se a construção de três choças e uma capela, deixando homens no local, certamente Domingos Faustino de Souza, João Antonio Graciano e certo Nunes (47), que estenderam seus domínios até as margens do Paranapanema – Piraju, para que a terra não viesse ser retomada pelos índios, nem apossadas por aventureiros outros, que logo chegariam por aquelas paragens.

* Historicamente a origem de Cerqueira César ocorre a partir de 1873, quando ainda Três Ranchos, dentro da propriedade de Antonio Bento Alves (48).

A região de Itatinga foi tomada dos índios em favor dos pioneiros, José Pinto de Oliveira e Antonio Francisco da Silva, que fizeram erigir a Capela em louvor ao orago São João Batista [de Itatinga]. Depois chegam os familiares dos desbravadores e a primeira comitiva comandada pelo Major Francisco Gomes da Silva Prado e o Coronel. Eduardo Lopes de Oliveira (49). O povoado garante origem oficial apenas a partir de 1875, mas tem sentido antiga tradição que diz o local de Pedra Branca, Itatinga, habitado antes pelos quilombolas, umas poucas famílias brancas e tribos indígenas convivendo pacificamente entre si, quando da passagem de Theodoro.

No local denominado por Água Clara fazem posse o Alferes Manuel Gomes de Faria e Antônio Joaquim Mendes que, em seguida, trazem de Minas Gerais os seus parentes e pessoas que desejam aventurar-se no sertão paulista. Os proprietários doam terras para o patrimônio da Capela de São Manuel, conforme documento datado de 19 de abril de 1870 (50). O povoado onde se ergueu São Manuel, "origina-se da concentração de um grupo de pacíficos lavradores, que começaram a surgir desde 1848 (...)” (51), portanto antecedente à passagem avassalante de Theodoro, onde lavradores brancos conviviam com indígenas da região.

Pratânia tem sua origem por ordem do Capitão José Gomes Pinheiro, pensada em 1842 (52), cujo núcleo inicia-se em terras do próprio Capitão, para formar posterior povoado na confluência dos rios Jacu (também conhecido como rio da Prata) e Claro, limítrofes a Botucatu, em tal fazenda da Prata de propriedade de José Gonçalves de Araújo, Aureliano Feliciano Vieira e do próprio Capitão José Gomes Pinheiro (53). Em 1850 os índios habitavam a região e eram ameaça aos brancos, quando lá chegou Theodoro com finalidades de desocupação.

Às margens do rio Lençóis se fixou Francisco Alves Pereira, que fez vir de Minas sua mulher e filhos, seguidos de outras famílias e escravos, sendo o lugar denominado Bairro dos Lençóis (54). A história aponta o local sob o nome anterior de Pouso de Lençóis, parada de descanso na rota dos tropeiros e porto para travessia do rio Tietê, desde os tempos jesuíticos – 1719 / 1759..

As terras de Agudos foram repassadas ao rico empreendedor mineiro Faustino Ribeiro da Silva (55), primeiro lá permanecendo homens seus a serviço de Theodoro e Tito, até que ele mesmo chegasse ao local, em 1852, à frente de um grupo de mineiros, como trabalhadores livres em troca de terras, e muitos escravos para a cultura de café e abertura de fazendas. Faustino fundou o povoado de São Paulo dos Morros Agudos e fez erguer outros bairros rurais dentro de sua imensa propriedade, deixando as famílias mais próximas dos locais de trabalho.

Assumiram a região de Bauru, Sebastião Pereira, Pedro Francisco Pinto e Rodrigues de Campos. A primeira povoação somente ocorreu com a chegada de Antônio Teixeira do Espírito Santo, fundador de uma fortaleza para garantir a segurança daqueles que desejassem trabalhar a terra. Ao abrigo da sentinela ergueu-se um povoado logo conhecido por Fortaleza do Espírito Santo, depois Espírito Santo de Fortaleza.

Sem dúvidas a inquietação progressista do Capitão Tito foi o fator determinante para a conquista do sertão, a partir de Avaré.

Em junho de 1851 o vitorioso Theodoro chega a São Domingos [do Tupá] para se encontrar com familiares e demais membros da comitiva mineira, tendo os seus por objetivo maior onde atual São Pedro do Turvo, enquanto outros companheiros e famílias ficariam pelos caminhos.

O pioneiro, juntamente com o Capitão Tito Correa de Mello, já alienara grandes porções de terra em posses abertas no Vale do Rio Pardo, naquilo que nos corrobora José Ricardo Rios, às páginas 27 de seu livro Coronel Tonico Lista – O perfil de uma época, publicação Debate, edição de 2004.

PRIMEIRAS FRENTES DE OCUPAÇÃO

Não sabemos todos os nomes de integrantes da comitiva de Theodoro, do ano de 1851, apenas de parentes seus e alguns de amigos mais próximos que chegaram até nós: Marcelino Leme da Silva, Francisco de Paula Moraes, João da Silva Oliveira, Domiciano de Paula, João Lourenço Ferreira, Vicente Lourenço Ferreira (1) e Francisco de Souza Ramos (2). Bernardino José de Souza, irmão de José Teodoro não se acha colocado em nenhum rol da comitiva de 1851, mas sabemo-lo em Pouso Alegre envolvido nos preparativos daquela expedição (3).

As relações nominais dos pioneiros variam um ou outro nome, de autor para autor, alguns a colocar num mesmo ror aqueles dos chegamentos de 1847, 1851 e 1856. Os autores minimizam presenças de escravos naquelas comitivas, e nenhum deles menciona os jagunços como tais elementos, dos quais Theodoro jamais abriria mão numa empreitada como aquela, sendo ele próprio chefe de capangas, acostumado a refregas e ciente do que o aguardava no bruto sertão. Também os autores subestimam o extermínio indígena nas regiões de chegadas dos desbravadores.

Conhecemos, por Bruno Giovannetti, que aquela comitiva [de 1851] chegou a São Domingos [do Tupá], de onde partiu com destino a atual São Pedro do Turvo, pelo espigão entre os rios Turvo e Pardo, sem seguir “rigorosamente o curso do rio Pardo, pois a mataria espessa teria esbarrado a arrojada e feliz aventura”, passando por agora Santa Cruz do Rio Pardo para atravessar o rio Turvo, “no ponto em que hoje surge a Vila de São Pedro [do Turvo]” (4).

Antonio de Arruda Dantas, por referências: “Consta que os pioneiros chegaram a estas paragens e se fixaram no local no dia 26 de junho de 1851, onde deliberaram, dada fertilidade das terras, a abundância da água e de madeiras de lei, erigir a primeira povoação que seria, não só a base, mas também o quartel general de seu arrojado empreendimento. (...). Localizou os companheiros nas imediações do local, estabelecendo cada um em águas que vertiam para o rio Turvo, próximo, e São João, e cuidou de efetuar as primeiras plantações para garantia de abastecimento (...)” (5).

Conquistado o direito de possuir aquelas terras desejadas desde 1847, a elas o pioneiro retornou em 1851, quando fez erguer a Capela São João e ranchos, no qual lugar seria São Pedro do Turvo. Também, a seguir, erigiria a Capela de São Pedro, pois que Theodoro “funda a Capela de São João e São Pedro e, em seguida, outra capela mais adiante, a de São José dos Campos Novos” (6). Nestes considerandos, sabendo então gentes na região no mês de junho de 1851, próximo ou entremeio às datas dos santos João e Pedro, nenhuma dúvida paira sobre as origens da Capela de São João Batista – para São Pedro do Turvo, e Capela de São Pedro – para Santa Cruz do Rio Pardo, naquele mesmo mês e ano. A Capela de São José [dos Campos Novos], hoje Campos Novos Paulista, somente teria história por volta de 1855.

* Para dirimir incertezas onde localizar Capelas São João e São Pedro, documentos oficiais dão conta que, pela lei de número 71, de 20 de abril de 1872, a Capela de São Pedro, no município de Lençóis, foi elevada à condição de Freguesia, com o nome de Santa Cruz do Rio Pardo; enquanto outra lei provincial, a de número 4 – publicada aos 5 de julho de 1875, alçou a Capela de São João Batista [e apenas esta] à categoria de Distrito, com a denominação de São Pedro dos Campos Novos do Turvo – depois São Pedro do Turvo, igualmente do município de Lençóis. A Capela denominada São José dos Campos Novos, embora com história desde 1855, povoação em 1864 e marco fundamental em 1868, conforme escritura lavrada em São Domingos [do Tupá] é hoje a localidade de Campos Novos Paulista, a não caber, portanto, questionamento por parte dos historiadores.

Senhor absoluto das terras até onde lhe chegassem, não mais a ambição ou a coragem, e sim a condição de domínio, José Theodoro retornou a Pouso Alegre em 1851 ou 1852, o que bem nos dá prova um documento, de 27 de abril de 1852, pelo qual José Theodoro de Souza e sua mulher Francisca Leite da Silva “doam um terreno dentro do [entre os] rio São João e ribeirão São Pedro, para neste terreno se edificar uma capela e freguesia invocada a São João Batista”, conforme registro no Cartório de Paz da Freguesia de São João da Boa Vista do Jaguari – atual São João da Boa Vista, no município de Mogi Mirim, da Sétima Comarca da Imperial Cidade de São Paulo (7).

Inexiste indicativo se Dona Francisca viajou com Theodoro a Minas Gerais ou o aguardava por lá, desta forma ignorada se o ato da transmissão ocorreu na ida ou na volta daquela jornada, permanecendo apenas a certeza oficial que referida doação aconteceu quatro anos antes do registro paroquial das terras em Botucatu.

* Não obstante Certidão de Casamento de José Theodoro de Souza com dona Maria José, no Sertão Paranapanema sempre constou sua esposa Dona Francisca Leite da Silva, assim identificada em todos os livros de registros em documentos públicos, títulos, procurações, escrituras e certidões. Enviuvado, Theodoro casou-se com dona Anna Luiza de Jesus (8).

Após 27 de abril de 1852 até 31 de maio de 1856 ocorre uma lacuna nos feitos de José Theodoro, na região do Vale Paranapanema, quando certamente na exploração de suas posses, dimensionando-as e consolidando divisas para proceder ao competente registro de posse lavrado, aos 31 de maio de 1856, em conformidade com legislação vigente.

De posse dos registros, o pioneiro faz sua ultima viagem ao chão mineiro, para recrutar interessados em trabalhar e povoar as terras do grande sertão ainda desocupado. Consta que João Vicente já estava por lá preparando as comitivas e aguardando a chegada do parente principal, para convencer de vez e com documentos aquelas gentes das vantagens oferecidas, na bacia do Pardo e outras partes do Vale Paranapanema.
Desta ultima empreitada José Theodoro retornou de Minas Gerais, entre setembro / dezembro de 1856, à frente de um grande contingente de mineiros ao Vale Paranapanema, muitos deles para adquirir terras já adiante do Vale do Turvo, como as famílias e agregados de Antonio Alves Nantes com um genro, Manoel José de Jesus, Antonio de Paula Rodrigues [o Ourives], João Lopes, Joaquim Alves de Lima, Antonio Botelho de Carvalho, Joaquim Pereira de Toledo, um casal das relações do pioneiro (9) e Bernardino José de Souza. “Atraz, nas vertentes do rio Pardo ficaram o Coronel Francisco Dias Batista, José Marques do Vale, Jorgino Marques, João Gonçalves Ferreira, José Ferreira Maciel, Carlos Bernardino de Souza, Joaquim Luiz Dutra, José Pinto Cardoso, etc” (10). Destes se sabe que José Marques do Valle, Carlos [Carrito] Bernardino de Souza, Pedro Dias Batista [Capitão Apiaí] e o Coronel Francisco Dias Batista, com respectivas famílias, agregados e escravos, estão contados entre os primeiros moradores de Santa Bárbara do Rio Pardo, em 1857 (11), localidade esta fundada pelo próprio José Theodoro de Souza (12).

* Segundo o autor Cláudio Dias Batista, “alguns pesquisadores atribuem o título 'Capitão Apiaí' ao filho de Inácio [Dias Batista – Capitão Apiaí], Pedro Dias Batista. Encontramos vários escritos onde pode-se verificar tal inexatidão. É importante salientar: Pedro não nasceu nem viveu em Apiaí e não se tem notícia de que possuísse qualquer patente da Guarda Nacional” (13) Entendemos tratar-se de homônimo, vista Pedro Dias Batista estar contado na caravana pioneira do Coronel Francisco Dias Baptista [Batista], vinda diretamente de Minas Gerais (14).

Jorgino Marques, João Gonçalves Ferreira, José Ferreira Maciel, Joaquim Luiz Dutra, José Pinto Cardoso, e outros, não se fixaram em Santa Bárbara do Rio Pardo, nem acompanharam Theodoro até a Capela de São João [São Pedro do Turvo], daí situá-los entre o Bairro de Santa Cruz [da Boa Vista] – Domélia e a Capela de São Pedro [Santa Cruz do Rio Pardo] desde janeiro de 1857, sendo conhecido que Antonio Rodrigues de Moraes foi residente no Bairro Santa Cruz (15), em 1857, enquanto as famílias Marques, Gonçalves, Dutra e Cardoso se encontram entre as pioneiras de Santa Cruz do Rio Pardo, não sendo mero acaso um Marques [Claudino J] nela eleger-se vereador em 15 de outubro de 1876 (16), quando da primeira Câmara Municipal da localidade.

Compreendemos, assim, a importância de Theodoro para o conhecimento da história do Planalto Ocidental Paulista, como desbravador a adentrar campos e matas, abrir picadas e enfrentar índio, requerer posses e fundar capelas (17) para nelas instalar gentes que pudessem fazer progredir o sertão, porque era este o grande objetivo, levantar povoados, alguns hoje transformados em cidades consolidadas, outros feitos distritos com ou sem experimentar prosperidade, e aqueles jamais além arranchamentos extinguidos pelo tempo. Assim o pioneiro povoou as regiões desde Avaré, Agudos, Lençóis Paulista e Bauru, depois São Pedro do Turvo, Santa Bárbara do Rio Pardo, Santa Cruz da Boa Vista, Santa Cruz do Rio Pardo e, um pouco de tempo adiante, Campos Novos Paulista e Conceição de Monte Alegre.

O sucesso migratório decorreu principalmente que Minas Gerais, já em início do século XIX, enfrentava a decadência da mineração e a entrada do ciclo agro-pecuário em grandes propriedades, tornando proibitivo o valor das suas terras disponíveis. Também o aumento populacional e divisão sucessiva das terras, entre herdeiros, diminuíram espaço para criações e lavouras, inviabilizando acomodações para as famílias, por isso os sucessores venderem suas herdadolas para buscar melhores condições em outras regiões.

Os mineiros “num primeiro momento dirigiram-se para os contrafortes paulistas da Serra da Mantiqueira” (18); depois, outros deles “saíram de suas vilas em direção à região de Araraquara (...)” (19), para enfim o Vale Paranapanema depois de meado do século XIX, adquirindo de José Theodoro de Souza glebas destinadas para agricultura de subsistência, horti-fruti-granjeiros e pastoreio, formando os primeiros pequenos bolsões de povoamentos, caracterizados como bairros residenciais, pela necessidade gregária, como relação de ajuda mútua nos serviços, mais propriamente o sistema mutirão e segurança.

Para as atividades assentadas na economia natural, ou seja, produção daquilo que necessitavam sem a preocupação de gerar excedentes, dedicaram-se à própria subsistência e escambos, num primeiro momento, posteriormente a vislumbrar mercado consumidor e, com isso, integrar novas pessoas ao grupo como mão de obra, para maior produção com possibilidade e disponibilidade em acompanhar e viver as dinâmicas do expansionismo econômico.

Além de pequenas lavouras de subsistência, a principal atividade econômica dos mineiros era a criação. Os animais eram soltos no campo, aproveitando-se a vegetação natural. Criavam-se porcos, muares e gado vacum que, juntamente com seus derivados [queijo e embutidos] e excedentes agrícolas eram levados para venda, junto ao mercado de São Manuel [do Paraíso], retornando com mercadorias essenciais como sal, querosene, pólvora, remédios e ferramentas para melhor trabalhar a terra (20). Suínos e bovinos podiam ser conduzidos vivos ou então abatidos e preparados em peças para o transporte em carros de boi.

Nas circunstâncias expostas, com a ampliação do mercado, o aumento da produção e melhores qualidades ofertadas, os produtos logo se transformaram em moeda, não mais simplesmente peças de trocas, cabendo ao sertanejo a opção por outras variedades de compras que não apenas o seu necessário. Deste processo ou conjunto de bens produzidos não só para subsistência e sim como fator de satisfação de outras necessidades, com a moeda por base de troca e medida de valor, organizara-se a produção visando o lucro crescente, inclusive o acúmulo de dinheiro para formação de capital.

Esse passo iniciou-se, consoante Amador Cobra, já com as “aquisições das primeiras sortes [de terras] e, em conseqüência, o povoamento dos sertões (...) provocando verdadeiro alvoroço entre os lavradores, grandes e pequenos, proprietários e simples jornaleiros” (21), uma vez que muitas propriedades adquiridas ou produções delas auferidas, não foram necessariamente para o uso ou consumo [estágio pré-capitalista] e sim para a venda, com perspectivas de bons lucros (22), características próprias de fenômeno capitalista mesmo que inicial.

Assim, indica-nos Maria Sílvia Moraes Nórcia: “A abertura dos sertões do Vale do Paranapanema pelos mineiros, que marcou a conquista da última região não desbravada do Estado de São Paulo, estava ligada diretamente à expansão do capitalismo subdividido em dois momentos: a Frente de Expansão e a Frente Pioneira” (23), com desdobramentos significativos para todo oeste paulista, primeiro com a Frente de Expansão, “quando ainda os participantes (posseiros) dedicam-se principalmente à própria subsistência e secundariamente à troca (...)”, depois, num segundo momento, quando entra em cena a Frente Pioneira, entre os anos de 1880 a 1910, visando as características e potencialidades do Vale Paranapanema, com suas terras férteis próprias para o plantio do café, para assim se instalar, “(...) como empreendimento econômico: empresas imobiliárias, ferroviárias, comerciais, bancárias, etc, loteiam terras, transportam mercadorias, compram e vendem, financiam a produção e o comércio” (24).

Óbvio tal curso de acontecimentos conduzirem, gradativamente, para a ocupação sistematizada de todo Planalto Ocidental Paulista, através da consolidação do Capitalismo, desde a implementação das grandes lavouras cafeeiras às conseqüências progressistas, sobrevindas com as empresas ferroviárias, industriais, comerciais e bancárias, pela ofensiva do capital inglês para compra, venda e financiamento da produção e comercialização, além do empreendimento imobiliário loteando terras e promovendo a imigração estrangeira.

Mas, respeitando os grandes nomes que se firmam em José de Souza Martins e o próprio (25), ousamos discordar, em parte, quando referem apenas a duas fases ou frentes de ocupação oeste paulista, mais propriamente o Vale Paranapanema a partir do rio Turvo, por compreendermos que as entradas de Theodoro, de 1847 e 1850/51, não foram a custo de reconhecimento territorial pacífico, avaliações potenciais de perspectivas e perigos insalubres da região, mas sim de extermínio de tribos indígenas inteiras, por vitimas de traumático processo de conquista de terras para ocupação por gentes do Capitão Tito e do próprio chefe de bugreiros, ações que outro nome não poderia ter senão de Frentes de Invasões Predatórias em Territórios Indígenas, ou seja, das conquistas através da prática contumaz de razias, pelas dadas ou por entre outros dispositivos de dizimação inapelável, a destruírem com aquelas vidas toda a organização social e cultural de povos unicamente considerados atravancadores do progresso.

Para certos autores locais e historiadores regionais, Theodoro é visto de maneira bastante simplista, homem que vivia espécie de troca de favores e serventias mútuas, como as chamadas trocas de relações pessoais, onde o pedido de um amigo mais poderoso ou a palavra dada e empenhada prevalecia sobre todas as formas de contrato (26). Outros o vêem apenas mero executor de ordens para avançar sertão, matar índios e apossar terras (27) que, depois desbravadas, seriam entregues aos donos do capital.

Melhor analisada as atitudes de Theodoro, percebe-se nele a plena consciência de estar a serviço do capitalismo e de sua organização produtiva, como desbravador sertanista, bugreiro, latifundiário e fundador de povoados. O pioneiro entra pela primeira vez no sertão paulista – Vale Paranapanema, em 1847, para caçar índios, constatar ou não civilização e tornar suas as terras inabitadas por civilizados e nem antes apossadas, conforme lhe dissera Capitão José Gomes Pinheiro, “aquele mundo precisava de gente valente e de braço. (...). Que viesse ver as terras da serra. Garantia que não ia se arrepender” (28). Seria inocência a História registrar que Theodoro apenas chegou para simples passeio de reconhecimento, pelo Sertão Paranapanema, como se este fosse o paraíso.

Theodoro gostou do que viu e do que fez, queria aquelas terras e as teve por garantias dadas ou ratificadas pelo Capitão Tito Correa de Mello, de “fazer posses em terras riquíssimas sem dono” (29); por isso retornou em 1850, antes da família, para outras empreitadas contra índios, ferozes, que impediam o avanço do homem branco rumo ao oeste paulista, massacre iniciado contra os Caiuás e os Botocudos, na região de Avaré, até total extermínio estendido aos Oti-Xavantes e Ofaiê-Xavantes, em todo Planalto Ocidental Paulista, à medida do avanço e ocupação branca.

A atividade exercida por Theodoro foi a nome do capital, no ato representado pelo Capitão Tito, vero precursor da fundação das primeiras localidades, a partir de Botucatu, e responsável pelo progresso do sertão oeste paulista.

Capitão Tito, financiador da conquista do sertão, era empreendedor progressista. Tinha o apoio do governo e segmentos da sociedade melhor beneficiada em fazer habitar e progredir aquelas terras, “às pressões dos proprietários e aos interesses do Estado para proteger as localidades ocupadas por gente civilizada, laboriosa e útil ao país – requisitos efetivamente não preenchidos pelos grupos indígenas na perspectiva do capitalismo – faz com que a presidência da Província oficialize a repressão, mesmo com os proprietários já usando das ações armadas das dadas, comandadas por bugreiros” (30).

As terras subtraídas aos índios por Theodoro e seu bando, entre os rios Paranapanema e Tietê até as margens do Turvo, foram entregues àqueles licenciados pelo Capitão Tito ou dele obtinham permissão mediante compra, para assim se iniciar a Frente de Expansão propriamente dita, a seguir, com a chegada das primeiras famílias mineiras, já a partir de 1850/1851 e logo concluída em 1862/1864, com aquelas características de economia voltada à própria subsistência e uns poucos excedentes para escambos – trocas diretas de mercadorias, com evolução para trocas monetárias. Adiante do Turvo a verdade era de Theodoro.


João Francisco Tidei Lima cita-nos Pierre Monbeig para quem “desde o seu início, a marcha para o oeste foi um episódio da civilização capitalista”, justificada pelo mesmo João Francisco, em Sérgio Silva, que tal episódio surge “como forma histórica do capital muito antes que o capital tenha dominado a própria produção” (31)

Carta Circular do Governo de São Paulo, datada de 23 de abril de 1857, com cópia para o senhor Vigário da Freguesia de Botucatu, grafia da época, dava oportunidade de se registrar Terras nas Paróquias já ultrapassado o prazo legal (32): “Sendo pelo Aviso de 4 de dezembro [1856] do aviso findo permittido as pessoas multadas por não terem feito registrar suas terras no prazo da Lei reclamar contra essas multas perante a Presidência das Províncias, cumpra que V.R.ma. instrua aos seus parochianos em ordem aqui os que se sentirem lesados enderecem a este Governo suas reclamações devidamente baseadas, as quaes, para maior facilidade, poderão já vir informadas por V.R.ma. (...)”.
PÁGINAS: 01 - 02 - 03 - 04 - 05 - 06 - 07 - 08
Voltar Imprimir

3 comentários:

tangerynus disse...

Rua João Martins da Sobrinho, nome de um dos descendentes do Barão de Cocais.

Celso Prado disse...

Caríssimo José Feliciano Pinto Coelho Cunha:
Parabéns pelo seu blog e divulgação histórica.
Por gentileza, mencione a fonte de seus levantamentos: Celso e Junko Sato Prado, os autores.

Celso Prado disse...

Este texto é de autoria de Celso e Junko Sato Prado. Os números são referências.
Obra Registrada em 2005 - website e Fundação Biblioteca Nacional - FBN-RJ, n. 391.422 - Livro 728 fls 82
Junko Sato - RG 4.342.700-5