sexta-feira, 21 de setembro de 2007

os judeus no brasil

Os judeus e o nome do Brasil - Parte 1 - A cruz sempre marca o local
Rogério Beier - Publicado em 08.02.2007

Era mês de março quando a frota cabralina deixou Portugal com seus 1.500 homens e treze caravelas em direção às Índias. O capitão da armada, Pedro Álvares Cabral, fora instruído pelo próprio rei D. Manuel a negociar o estabelecimento de uma feitoria portuguesa com o rei de Calicute naquelas terras, nem que para isso fosse necessário guerrear com ele, por isso frota tão numerosa e com tantos homens.
Ordem de Cristo na chegada de Cabral ao Brasil em 1500





Pouco mais de um mês após deixarem Portugal, Cabral avista um morro “mui alto e redondo”, ao qual batizou Monte Pascoal, por estarem no dia de Páscoa. Às terras que rodeavam o monte, ordenou que fossem chamadas de “Terras de Vera Cruz”, como relata em sua famosa carta o escrivão Pero Vaz de Caminha. O nome Santa Cruz só viria posteriormente, em 1501, quando D. Manuel escreve uma carta a seus sogros, os reis católicos de Aragão e Castela, para contar a boa nova das terras recém-achadas. A estas terras refere-se com santíssimo nome de “Terras de Santa Cruz”.

É curioso notar como esta viagem de Cabral é marcada pelo símbolo da cruz de modos bem diferentes. Um dos mais notórios é que as próprias embarcações portuguesas vinham com suas velas enfunadas com a insígnia da Ordem de Cristo, cujo emblema era justamente uma cruz branca sobreposta a outra vermelha.

A Ordem de Cristo foi uma ordem religiosa criada em Portugal pelo rei D. Dinis no ano de 1319. Ela acabou por substituir a famosa Ordem dos Cavaleiros Templários, extinta cinco anos antes pelo Papa Clemente V, que ordenou que seu grão-mestre, Jacques de Molay, fosse queimado vivo em uma praça pública próxima a Paris. Ao substituir a Ordem dos Cavaleiros Templários, a Ordem de Cristo acabou herdando não apenas o poder político destes últimos, mas também grande parte de suas propriedades e riquezas. Durante a expansão marítima portuguesa nos séculos XV e XVI, o grão-mestre da Ordem de Cristo era ninguém menos do que o próprio rei de Portugal, sendo todas as suas conquistas marcadas pela cruz da Ordem de Cristo, seja nos mastros das embarcações, ou nas insígnias que dependuravam dos pescoços dos comandantes, geralmente, cavaleiros da Ordem.

Uma segunda maneira muito especial que a cruz acabou por marcar o que viria a ser o Brasil está relacionado não com as terras, mas com os céus dessa região. Sabemos através dos filmes e livros de piratas que, em seus mapas de tesouro, a cruz sempre marca o local onde este está enterrado. No caso do achamento do Brasil, apesar de a cruz não marcar exatamente onde estavam essas terras, ela serviu de guia para trazer os portugueses até as suas costas.

Segundo os relatos de Mestre João, cirurgião, físico e cientista do rei que viajava na frota de Cabral, assim que os portugueses cruzaram a linha do Equador, passaram a se orientar através de outra constelação, uma que tinha forma de cruz e cujas estrelas eram tão grandes como as da constelação do Carro. O relato do Mestre João é o primeiro que se tem notícia a descrever a constelação do Cruzeiro do Sul que, de tão importante para o Brasil, posteriormente seria estampada na bandeira da república e de lá não sairia até os tempos atuais.

Revista Nova Escola Mar-99 – Nº.22. Tal fato, apesar de parecer banal, demonstra como a cruz marcou definitivamente o achamento dessas terras. Como diz Paulo Roberto Pereira em seu Três únicos testemunhos do Descobrimento do Brasil, o olhar terreno de Caminha sobre a Vera Cruz nomeada por Cabral se complementa com o perscrutar do céu austral do Mestre João, que também denominou este céu de Cruz, passando uma visão harmoniosa e a primeira versão escrita do céu e da terra do que viria a ser o Brasil. O rei D. Manuel complementaria a tríplice trave da cruz, um ano depois, ao batizar as “novas terras” de Santa Cruz (PEREIRA, 1999, pp. 70). Como se dizia dos velhos mapas de pirata: a cruz sempre marca o local.

PARA SABER MAIS:
PEREIRA, Paulo Roberto. Os três únicos testemunhos do descobrimento do Brasil. São Paulo: Lacerda, 1999.

Ensaio Os judeus e o nome do Brasil - Rogério Beier
• Parte 1 - A cruz sempre marca o local
• Parte 2 - Fugindo da cruz

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