sexta-feira, 30 de novembro de 2007

férias

FÉRIAS LIBERTÁRIAS

Logo que cheguei com o Prjojeto de Cicloturismo à região de Ouro Preto percebi que seria muito difícil realizar um roteiro para cicloturismo. Meu maior desafio era escolher o melhor de uma região onde há tantos sítios Histórico - Volta ao Mundos e belezas naturais.

Consultei os espertos da área (Tico Rico, Fiote, Anderson dentre outros) e a sugestão foi unânime: Algo na porção leste de Belo Horizonte.

Fiquei animado em começar o circuito a partir de Caeté, não só porque evito a região periférica da grande BH, mas por que é a cidade berço da guerra dos Emboabas .

Muitos classificam esse movimento como fruto puramente da ganância dos garimpeiros, mas há quem diga que nela se mostrou, pela primeira vez em nosso país um sentimento nacionalista. Como parte da formação histórica do estado de Minas Gerais, na Guerra dos Emboabas proclamou-se Manoel Nunes Viana governador sendo considerado o primeiro ditador a ser erigido na América (dezembro de 1707 conforme dados Histórico - Volta ao Mundos apurados junto a prefeitura de Caeté).

Pergunte pela praça dos emboabas, e comece a pedalada a partir da estátua dos combatentes. Os primeiros 25km até Barão de Cocais são em terra e o restante asfalto até Santa Barbara e o Caraça.

Logo constatei uma das grande dificuldades que um cicloturista fatalmente perceberia neste trajeto. A maior parte de Minas Gerais compõe-se por montanhas, sendo assim, qualquer circuito que mapeasse teria a característica de ser bastante duro.

Não há longos aclives, mas todo caminho é cheio de subidas e descidas radicais que desgastam bastante, talvez mais do que muitas travessias em grande altitude que realizei na Europa.

O melhor a fazer é concentrar na bela paisagem e pensar que o caminho pedalado é o mesmo percorrido pelos Reis brasileiros quando visitavam a região das Minas do Ouro, a chamada “Estrada Real”. A bicicleta proporciona, nesta hora, uma velocidade maior que a dos veículos da época mas, mesmo assim, é uma velocidade “natural” onde pode-se observar cada detalhe do caminho.

Falando em ouro, o trajeto atravessar uma mina de verdade e em pleno funcionamento.

A mina do Gongo Soco já produziu muito ouro “... de onde o ouro saía com tamanha abundância que pareceu aos escravos um castigo e era, em montes, seco ao sol em grandes couros de bois.” Conforme descrito em relatos Histórico - Volta ao Mundo. Agora, seu forte é minério de ferro.

Muito pó, caminhões carregados, agitação organizada de lá e de cá para sacar toneladas de terra misturada ao metal. Montanhas inteiras sendo transformadas em buracos profundos para suprir a demanda internacional. Acho que mesmo em meu câmbio Shimano conseguiria reconhecer metal brasileiro.

A par da destruição, os terraços formam um desenho surrealista de cores e brilhos do metal aflorando.

Algumas ruínas a beira da estrada ainda persistem e contam a história de épocas onde viviam mais de setecentos escravos trabalhando em busca de ouro.

As distâncias em quilômetros são pequenas, mas não devem enganar o cicloturista. Ao visitar os acervos Histórico - Volta ao Mundos e curiosidades das vilas e cidades do caminho (Vila do Gongo, Barão de Cocais e Santa Bárbara) não deixe de abastecer as caramanholas, pois não é fácil obter água pelo caminho.

No 41,06 km há uma placa indicando “Pousada Pico do Sol”, já estamos quase na portaria da maior preciosidade ecológica do percurso, o Parque Estadual da Serra do Caraça. Abrem-se então as únicas opções de camping: Selvagem ao lado de um rio a 700 m da estrada ou, se preferir mais estrutura, pode se acampar ao lado da própria pousada. Infelizmente não é permitido acampar no Parque (nem tudo é tão ruim no parque, pelo menos bicicletas não pagam).

Quem já não estiver bem das pernas poderá usar estas estruturas para descansar a noite, pois a subida até a sede do parque é descomunal (Veja o Gráfico).

Os que preferiram dormir embaixo perderão a chance de presenciar a visita do lobo guará que vem quase todos os dias saborear os restos do jantar dos hóspedes do convento. Já bem acostumado ao flash o animal nem interrompe sua refeição, entretanto se afugenta ao menor sinal de movimento da platéia curiosa.

Além da beleza das inúmeras trilhas e cachoeiras, a tranqüilidade do mosteiro e as belas formas da pequena Igreja gótica fazem o charme do lugar. Afinal, qual foi a última vez que você pode dormir em um mosteiro de verdade, igualzinho aos dos filmes da idade média?

Mesmo com maior trecho asfaltado, o segundo dia é ainda mais difícil, pois é longo e termina com subidas íngremes (104,03 km a partir do Caraça com 14 km em terra - atenção a planilha e o gráfico começam a partir do trevo na rodovia que dá acesso ao parque).

A maior beleza do segundo dia está nas primeiras horas enquanto circundamos toda a serra do Caraça e observamos cada pequena formação. Uma visão privilegiada, pois a maior parte dos visitantes chega ao parque pelo norte (BR262) e nunca vê as montanhas pelo leste. Com a luz da manha o sol faz a rocha brilhar como se fosse de puro metal.

A estrada não poderia ser melhor, asfalto novo e quase sem movimento, o pessoal do Speed vai adorar.

Mais plano que no dia anterior o caminho passa por outras minas de ferro. Depois de Catas Altas, chega-se a mina Alegria que é bem maior e mais equipada que a Gongo Soco. Pode-se pedalar ao lado de carregadeiras com capacidade de 120 t (uma carreta normal carrega até 40 t).

No km 52,27 da planilha (71.78km pedalados no dia) há uma lagoa ideal para o camping selvagem, boa opção para aqueles que estiverem cansados ou que desejam conhecer cuidadosamente em outro dia as cidades históricas de Mariana e Ouro Preto.

Quem tem bom pique pode continuar e chegar até a praça Tiradentes, descansando na cidade de Ouro Preto completando assim o segundo dia.

Pensei muito antes de escolher este trajeto para mapear. Gostaria de fazer algo que agradasse a todos, turistas comuns e cicloturistas experimentados.

Ao visitar as atrações de Ouro Preto não pude deixar de passar na sala onde estão sepultados aos inconfidentes. Dentre as várias tumbas, a maior e em destaque é a de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Imediatamente fiquei arrepiado e com orgulho exclamei:

- Nosso grande herói!!

Meu amigo Zé Maurício comentou:

- É, mais a coisa não é bem como se conta no primário.

Ele se referia ao fato de que, na verdade, Tiradentes nunca ocupou cargo importante na insurreição, que jamais foi um dos grandes teóricos, talvez fosse somente um garoto de recados.

Respondi a ele que acreditava que o heroísmo de Tiradentes estava justamente na coragem de assumir suas idéias de liberdade frente a repressão portuguesa e a determinação de levar isto até as últimas conseqüências. Não importava o que ele fazia (seu posto), mas como ele fazia (sua convicção).

Neste momento tive a certeza de qual roteiro planilhar. O circuito Caeté – Ouro Preto pode atender a cicloturistas experimentados ansiosos por aventura e em busca de regiões naturais e vão concretizá-lo em apenas dois dias, mas também pode levar pessoas com pouco relacionamento com a bicicleta a um passeio belíssimo e tranqüilo por algumas das cidades históricas de Minas com seu próprio veículo de “velocidade natural” pousando em cada cidade do caminho.

Minhas preocupações em fazer um bom roteiro são iguais a de qualquer turista ao planejar sua viagem - conhecer mais e melhor - . Percebi que pouco importa a distância que se caminha, mas como se percorre o trajeto. Mesmo que ocupe toda uma semana das férias para percorrer 158 km o aproveitamento está em libertar-se da “velocidade” do turismo tradicional e viver sua própria liberdade de ir para lá e para cá.

Com a bike tem-se autonomia para decidir seu trajeto e sua velocidade fará com que não perca os detalhes de cada casarão, cada igreja e cada curva de relevo desta região maravilhosa.

Um comentário:

Unknown disse...

Começo por desejar à família Pinto Coelho radicada no Brasil e a si um excelente Ano de 2008. Encontrei este seu blog e penso que será de grande interesse para si visitar este endereço:
http://genealogia.netopia.pt/1180/pessoas_search.php?start=900&orderby=&sort=&idx=900&search=
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Um abraço
João Manuel Diniz Pinto Coelho